quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Beleza Fácil e Definitiva de Ceumar e Sua Música (por Julinho Bittencourt)



Se o Brasil procurava uma nova dama da canção, achou! Com uma carreira que começou em 2000, com o lindo disco Dindinha, a cantora mineira Ceumar traz todos os requisitos para ocupar o posto de grande diva da nossa música.

Tem um repertório novo, inteligente e bem elaborado, sua voz é límpida e linda e, como se não bastasse isso tudo, ela também é dona de uma beleza fácil e definitiva, daquelas que prescinde dos truques das roupas e dos salões.

E, só para deixar tudo isso mais claro, chega a Meu Nome, seu quarto disco, com duas inovações corajosas. A primeira se desdobra em duas, ou seja, é um disco ao vivo onde ela se apresenta apenas com seus violões. A segunda, tão ousada quanto, fica por conta do repertório. Desta vez ela gravou somente canções suas, algumas em parceria, mas a maioria dela mesmo.

Para quem chegou no cenário cantando coisas que vão de Sinhô a Zeca Baleiro, passando por Luiz Tatit e Dante Ozzetti, com quem dividiu o inesquecível disco Achou!, e até o grupo inglês Renaissance, um repertório inédito poderia ser perigoso e frustrante.

No entanto, ao contrário do que pudesse prever qualquer produtor mais austero, suas canções se equivalem a todo o seu talento. São brejeiras, construídas de forma mínima e certeira. Com duas ou três frases, tanto musicais quanto melódicas, resolve a questão e deixa a audiência feliz da vida.

O disco abre com Reinvento, composição cuja letra de estirpe traz para o grande público a poetisa Estrela Ruiz Leminski. E é justamente a desfaçatez de Ceumar um dos melhores ingredientes deste Meu Nome. Ao mesmo tempo em que transforma em coloquiais versos mais densos, faz com que as suas melodias transformem conversas ao pé do ouvido em construções inesquecíveis.

A partir disso, a cantora expõe em suas canções um universo tão único e, por isso mesmo, tão reconhecível para todos. Fala do filho e da mãe, da chuva e do tempo, tudo quase como quem percorre um álbum de retratos ou revê uma cidade antiga.

Segue, enfim, a nos contar histórias, ensinar cantigas e brincadeiras de roda feito um viajante que descreve seu país distante. Um lugar que, de repente, descobrimos também como nosso.

Tudo na sua música acontece de forma natural e tranquila. Talvez até por isso este formato somente com voz e violão tenha um significado maior para a carreira da cantora.

Com um tantinho de maquiagem aqui e ali, alguns poucos acordes precisos, o senso exato do ritmo e da respiração, e o sorriso aberto, ela reinventa para um novo mundo a sua canção dos folguedos e praças.

De saia rodada e intenção agreste, sua alma impregnada de asfalto canta fácil canções difíceis. Com jeito de quem escapou de um romance de Jorge Amado, Ceumar dança entre os blogs e alinhava com seu canto a eternidade. Meu Nome, assim como a sua autora, é um disco feito para sempre.


Julinho Bittencourt é jornalista e músico (ou músico e jornalista)

Garanta já o seu ingresso para a apresentação de Ceumar no domingo, 2 de Agosto, no Teatro do SESC-Santos

publicado originalmente no Trupe da Terra

Um comentário:

Armando disse...

Julinho, confesso que comi mosca e ainda não a conheço.
Mas depois dessa sua apresentação a curiosidade está ardendo.
Muito legal a maneira como seu texto flui. Como música bem cantada.
Vamos passando de um parágrafo a outro com o mesmo prazer de se ouvir belos acordes em uma boa melodia.
Sem afetação e púlpito, é como uma boa conversa de esquina que tivemos tantas vezes em tantas madrugadas.
Saudades e grande abraço.