terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cultura em Foco (por Flávio Viegas Amoreira, publicado originalmente no website Cronópios)


‘’Ir a lugares, ver pessoas, fazer coisas’’

Assim define o diretor americano Martin Scorsese o conceito de felicidade;- Andy Warhol era mais flavescamente otimista ao dizer : ‘’Eu gosto de gostar das coisas’. Vivemos a transmodernidade, vidas em transe, hipersensibilidade onde as pessoas se distinguem e vencem o niilismo ou a barbárie com ‘’interesse’’ : vontade, desejo, curiosidade visceral:

o que denomino tesão da Alma. Cultura é o conceito mais abrangente para definir espírito humano em busca, rastreando, obsessivamente plugado: a leitura, as artes visuais, a videoesfera, o mundo virtual, a boêmia resgatada, a troca de idéias mais disparatadas possíveis para a era do disparate são alguns tópicos disso denominado Cultura: cultura do desejo, cultura da noite, cultura de lançar pontes entre pessoas, sair do insulamento, formarmos arquipélagos de comunidades e tribos urbanas que não se tornem isoladas, estanques , mas conversem em idiomas infinitos convergindo para a mais intrincada, complexa, mas gozoza Cultura: a Cultura da convivência. O homem interessado, cultivado, antenado, entendido e desencanado de preconceitos que excluam qualquer Cultura genuína é aquele capaz de orgasmos múltiplos ao ouvir jazz, erudito, hip-hop, amanhecer embriagado de Mozart ou Amy Winehouse, como quem percorre o Louvre através da internet ou contempla o mar belo mar selvagem de Santos, Barcelona vivendo como quem vence a morte em exercício da celebração cotidiana da existência: artistas e intelectuais não representam uma casta: são apenas personagens mais sensibilizados pelo milagre de vencer o absurdo e angústia do Ser : a poetização da Vida está alcance de todos: basta tornar artístico nosso exercício de viver. ‘’Não existe Arte inacessível, sim público despreparado’’ – dizia Maiakóvsky. A Cultura não é somente a soma de várias atividades, mas um modo de viver. Apesar de vivermos no mundo, carregamos nosso sentimento telúrico como carga genética coletiva: somos marinhos, cosmopolitas por vocação navegante, a metrópole não nos engole por termos uma identidade geográfica e histórica muito peculiar: o litoral paulista, na verdade Santos estendida em 400 quilometros forma uma das regiões mais privilegiadas por ser berço da civilização brasileira, ter lastro sócio-econômico decisivo para economia nacional e agora por vislumbrar uma crise de crescimento que nos desafia re-pensar: que cidade queremos? Como vamos nos inserir diante do ‘’boom’’ energético? Qual o papel do Estado num momento que sepulta o neoliberalismo e exige de novo a participação efetiva da sociedade civil ? O poder público é movido por demandas: e nos últimos anos a arquitetura , patrimônio histórico, manutenção de equipamentos culturais, turismo cultural tornaram-se tema para plataforma de governo que viam Cultura como preocupação elitista ou blá-blá-blá aviadado. Santos é basicamente cidade pronta exigindo recheio, conteúdo e um padrão comportamental condizente com a hipermodernidade:

não podemos amesquinhar nosso destino com mentalidade de estação de águas: é preciso movimento, agito, visibilidade de nossos eventos, um cronograma cultural arrojado, políticas públicas para a Cultura além da jequice bucólica de bondes ou encenações pândegas de Martim Afonso: uma nova geração bate a porta: devemos metropolizar a Cultura: aproveitar nosso potencial com roteiro histórico integrado, com roteiro sacro integrado e com discurso integrado entre a tradição santista para o glamour que perdemos com as possibilidades riquíssimas de renascimento criativo, intelectual, vanguardismo comportamental propiciando mais barulho além do único permitido: do bate-estaca erigindo prédios de gosto duvidoso para quem só tem vocação para a paz dos cemitérios.

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