terça-feira, 30 de junho de 2009

Carta a um amigo jornalista que adorou o filme do Simonal (por Chico Marques)


Acabo de ler o artigo que você escreveu sobre o documentário do Simonal, e queria fazer algumas colocações.

Primeiro, o filme não diz, mas o Simonal estava em queda de popularidade no final dos anos 60 para os 70. "Alegria Alegria 4" foi seu último best-seller. Seus dois discos seguintes na Odeon, "Simona"(1970) e "Jóia Jóia"(1971) venderam pouco. Como seu contrato encerrava com esse último disco, e as relações entre as duas partes estavam desgastadas, Simonal tentou contornar um fiasco ainda maior pedindo ajuda a seus amigos no Poder para pressionar a Phillips a contratá-lo, e consta que foram oferecidas certas facilidades para os artistas perseguidos do elenco da Phillips em troca desse favor. André Midani conta como foi essa saia justa no livro dele, mas não entra muito nos detalhes. O pouco que conta, no entanto, já é bem revelador.

Mesmo com sua carreira caindo pelas tabelas, Simonal gravou dois discos espetaculares para a Phillips em 1972 e 1973, que -- ao contrário do que eu imaginava -- foram bem promovidos pela gravadora, mas simplesmente não emplacaram. Depois seguiu para a RCA, que "ofereceu" um belo contrato para mais 3 discos, que ele gravou entre 1975 e 1979, todos de altíssimo gabarito, e que também não emplacaram. Foi só da segunda metade em diante do governo Figueiredo, quando começou a rolar a Abertura, que nenhuma gravadora "ofereceu" mais contratos de gravação para Wilson Simonal.

Ou seja, Simonal não foi calado por ninguém. Cantor que é calado, não grava. O problema com Simonal é que, mesmo apadrinhado pelos milicos, ele não conseguiu peitar o desinteresse crescente do público pela figura dele. Se aquele caso terrível com seu contador não tivesse acontecido, a carreira de Simonal provavelmente teria seguido de forma bem "low-key", semelhante à que o Jair Rodrigues teve dos anos 70 para cá.

Agora, a grande canalhice desse documentário está na tentativa de mascarar um registro nitidamente oficial, apoiado e autorizado pela família, como um "esforço investigativo independente". Curiosamente, todas as pessoas que estão cuidando da promoção no filme na Imprensa são "ex-funcionárias" da Trama Discos, da família Szajman, que comprou de uns anos para cá os direitos dos fonogramas do Simonal da Odeon. Não conseguiram ainda comprar os fonogramas que ele deixou na Philips e na RCA. Por conta disso, excluem esses discos das discografias oficiais que distribuem para blogueiros recém-enviuvados pelo Simonal espalhados por ai, para tentar subdesvalorizá-los no mercado....

Quer saber? Para mim ele foi dedo-duro mesmo. O Sérgio Fleury -- que era tudo menos burro -- deve ter dado sumiço na pepelada que o comprometia diretamente com dedurismo, para com isso facilitar o arquivamento daquele processo que o colocou em cana por 9 dias. E o resto é apenas proselitismo barato muito bem conduzido pelos advogados da Família Szajman.

Ou seja: Simonal tinha telento, mas não valia nada.

Um abraço

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